Artigo – O intrigante mundo sem dinheiro em espécie
Por Oswaldo Bezerra
Pagar sem dinheiro é normal. É rápido, fácil e confortável. Em todo o mundo, as transações bancárias substituíram há muito os pagamentos em dinheiro. Muitos bancos centrais e governos ainda se apegam a moedas e notas, mas será que eles podem desacelerar a evolução para uma sociedade sem dinheiro?
Quem apoia o lobby que quer abolir moedas e notas em todo o mundo? Os bancos querem se livrar de moedas e notas porque sua emissão é custosa. Os políticos querem menos dinheiro para impedir crimes e terrorismos. Funcionários do banco central querem abolir o dinheiro porque torna mais fácil aplicar taxas de juros negativas.
Os mais ávidos pelo fim das moedas e notas são as empresas de pagamento digital, como Paypal, Nubank ou Visa, simplesmente desejam lucrar com todas as transações financeiras e coletar o máximo possível de dados financeiros dos consumidores. Seu objetivo é ter total controle de nosso comportamento como consumidores, para poder vender as informações para empresas de venda.
O “Better than Cash Alliance” de Nova York, que é apoiado por grupos como Visa e Mastercard, argumenta que o mundo está melhor graças aos sistemas de pagamento digital. Quanto mais pessoas ingressarem no sistema financeiro internacional, maior será o crescimento e o número de emprego.
As próprias empresas de pagamento eletrônico, não só se beneficiam com lucros graças às tarifas, mas também com o acesso a um volume incomensurável de dados. Os estados também estão usando as novas oportunidades para aprender mais sobre nós por meio de nossos dados de transações.
O interesse dos cidadãos em ter dinheiro como reserva é ficar fora dos interesses de terceiros. Por isso, o dinheiro em espécie é e continuará sendo uma garantia de liberdade individual.
A pandemia de corona vírus aumentou ainda mais a quantidade de pagamentos com cartão e sem contato por medo de infecção. A redução drástica em dinheiro foi visível em todos os países, particularmente visível nos países escandinavos. O Banco da Suécia expôs os problemas que a falta de “dinheiro real” traz.
Os pagamentos com cartão, sem contato, explodiram na região nórdica. Durante os primeiros 4 meses de 2020, o volume de pagamentos sem contato cresceu de 57% para 69%, de acordo com dados coletados pela operadora de cartões Nets A / S. A tendência pode ser observada em todo o mundo. Globalmente, quase 60% foram feitas com um toque na tela, de acordo com a empresa de cartão.
Na zona do Euro, apenas 10% do produto interno bruto circula em dinheiro, nos EUA proporção é menor que 8%. A Suécia tem menos dinheiro em circulação do que qualquer outro país do mundo, apenas 1%. Dos suecos, com idades entre 18 e 34 anos, cerca de 70% nunca ou raramente carregam dinheiro, segundo o Bankomat.
O Riksbank, Banco da Suécia, observou que alguns jovens suecos “não têm mais ideia” de como é o dinheiro de verdade. É um futuro que preocupa os suecos, que acham que os legisladores devem intervir antes que seja tarde demais.
Nem sempre foi óbvio que a falta de dinheiro pode se transformar em um risco. Mudar para as transações digitais tem muitos benefícios, escreveu o jornal Bloomberg. Este método de pagamento promove o tipo de transação que torna mais difícil fazer lavagem de dinheiro e evasão fiscal.
Por outro lado, se não houver dinheiro para sacar, e se as redes digitais falharem? Outro perigo são os ataques cibernéticos, que podem causar muito mais danos do que os antigos assaltos a bancos. Caso as luzes se apaguem, precisaremos ter dinheiro físico suficiente no país inteiro, para que possamos voltar a usar o dinheiro físico, se houver um problema sério, como uma tempestade solar que acabe com a internet ou uma bomba de pulso eletromagnético.
Essa será a relevância e a razão de ser dos bancos centrais. Os países precisarão de uma definição adequada, de curso legal para a era digital. Os governos também terão que elaborar legislação exigindo que bancos e empresas “mantenham alguma forma de capacidade mínima” para lidar com dinheiro físico.
Enquanto isso, um dos últimos bastiões do dinheiro, a receita dos autônomos mais pobres também está morrendo. As contas de pagamentos de bancos digitais estão tomando este campo. Um mundo sem dinheiro será mais perigoso para a liberdade humana, seremos escravos das entidades financeiras privadas cuja única intenção é o lucro.
RG 15 / O Impacto