Artigo – O importante pensamento crítico para a Amazônia

Por Oswaldo Bezerra

Um líder dos estados amazônicos precisa se pós graduar em conhecimentos das atualidades da Amazônia. Para isso há o exemplo de um estudioso que primeiro descobriu como aprender sobre a região. Depois foi a fundo no conhecimento e desenvolveu o pensamento crítico amazônico mais profundo que se tem notícia até hoje. Ele pôs seu imenso talento a serviço da Amazônia e precisa ser de fato ser um dos alicerces dos conhecimentos que todo o governador do Pará precisará adquirir.

Essa pessoa iluminada por talento e trabalho nasceu em Santarém-PA em 1949. Ele é filho do jornalista e porta-voz da prefeitura e depois político Elias Ribeiro Pinto, fundador do jornal “O Baixo Amazonas”. Trata-se de Lúcio Flávio Pinto, que se tornou um dos mais prestigiados jornalistas do mundo. Um jornalista tão grande que não coube mais em nenhuma redação tendo de criar o “jornal pessoal”.

Formado em Sociologia pela USP, Lúcio começou sua carreira como jornalista no ano da morte do até então maior jornalista do Pará, Paulo Maranhão, em 1966, curiosamente no dia do meu nascimento. Nenhum jornalista demonstra tanta objetividade na redação como ele. Sua aversão a censura e a parcialidade lhe deram a característica de jornalista dos fatos concretos.

Sentiu na pele a fúria do fascismo quando a polícia militar tentou matar seu pai, que foi defendido pelas mulheres santarenas e por soldados da Força Aérea Brasileira. Foi ameaçado de morte dentro de sua casa durante o governo Jader Barbalho, que teve que fazer uma reunião para protegê-lo. Também foi surrado por um policial em Belém que se sentiu ofendido por um de seus artigos. Mesmo com estes fatos não o fizeram desistir da objetividade dos seus artigos.

É autor de diversos livros sobre meio ambiente e Amazônia. Foi correspondente da BBC Radio News, responsável pela sucursal do jornal O Estado de S. Paulo na Amazônia e repórter dos jornais O Liberal e A Província do Pará, entre outros. Desde 1987, publica o Jornal Pessoal, quinzenário individual que circula em Belém sem nenhuma publicidade, e que tem como diferencial em relação ao restante da imprensa paraense o não alinhamento a nenhum dos grupos políticos e empresariais do estado.

Lucio Flavio Pinto sabia de suas limitações, no início de carreira, em relação aos conhecimentos sobre a Amazônia. Depois de uma participação em um simpósio sobre a Amazônia percebeu que os gringos sabiam mais sobre a Amazônia que os próprios amazônidas. Lúcio tratou de aprender inglês para absorver o conhecimento da sua própria região, mas que vinha de fora.

Eu tive esta mesma impressão quando trabalhei no Instituto do Homem Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON), fundado pelo professor e pesquisador norte-americano, da Universidade da Pensilvânia, Christopher Uhl. O fundador do IMAZON acabou sendo responsável pelo maior desenvolvimento científico da Amazônia dos tempos modernos.

Lúcio Flavio também teve sua profissão como ferramenta para desenvolver o pensamento crítico regional. Teve sua formação de história política no jornal “O Correio”, pois conheceu ali a nata do jornalismo e da política da época. Quando trabalhava pelo Estadão, ele era enviado para todos os pontos onde alguma coisa importante estava acontecendo na Amazônia.

Flávio afirma que quando o conhecimento sobre a região vem o comportamento das pessoas muda. Assim ele conta sobre experiência que teve na Operação Amazônia, com o presidente Castelo Branco que fez uma viagem de transatlântico de Belém a Manaus. O presidente saiu com um pensamento de Belém e chegou a Manuas mudado.

Flavio critica a esquerda brasileira por tentar fechar a Amazônia aos estrangeiros. Ele considera que este fechamento teria o mesmo efeito que a Linha Maginot teve para a França na segunda guerra mundial, ou seja, sem efetividade nenhuma.

O jornalista santareno defende uma visão cosmopolita para a Amazônia. É uma região muito complexa onde tudo é gigantesco. Por exemplo, a descoberta de Carajás abalou o mercado mineral do mundo. De lá sai o maior trem de carga do mundo levando 6% das exportações brasileiras.

Flavio Pinto reclama que os maiores especialistas da Amazônia só a conhecem pelo computador. Precisa de mais para compreendê-la. Por isso, a visão brasileira não passa de uma visão colonial para a região.

Quando o Estado de São Paulo compreendeu esta verdade mandou correspondentes para os maiores centros regionais da região. Nesta campanha Lúcio descobriu que o plano colonial está sendo em prática por empresários paulistas. A visão desta elite paulista visa a região como uma extratora de dólares através da exploração madeireira e pecuária.

Delfin Neto ao ser arguido por um ministro japonês, sobre a taxa de popança do Brasil, respondeu “nosa taxa é baixa, mas temos a Amazônia”. O maior município exportador do Brasil é um município paraense, Parauapebas, que deve ter sua mina exaurida nos próximos 40 anos.

O fundador do Jornal Pessoal reclama que tanto governos de Direita e de Esquerda. Sempre tiveram uma visão de desenvolvimento não sustentável para a região. Quando visitou os EUA procurou estudar sobre hidrelétrica. Quando voltou foi um dos maiores críticos da Eletronorte do Brasil. Chorou quando viu o Rio Tocantins ser represado sem acompanhamento crítico.

A crítica ajuda a Amazônia a sair do modelo colonial, mas só isso não resolve. Precisa de ação. Críticas sem apresentação de alternativas é muito pior. Belo Monte, por exemplo, segundo Flávio, tem um dos maiores absurdos de engenharia para atender a uma crítica.

Na concepção do autor santareno, a Amazônia foi poupada no século XX devido à preferência de exploração voltada para a África e Ásia. Hoje a velocidade de exploração da Amazônia é recorde. Depois de privatizada, a Vale do Rio Doce informou que em 40 anos acabaria com as jazidas de Carajás. Por demora de Licenças Ambientais a Vale usará sistema com correias transportadoras de minérios.

Esse uso de correias é pressa em retirar rapidamente o minério. Querem fazer em Carajás o que fizeram no Amapá, quando praticamente transportaram a Serra do Navio e seu minério de manganês para os EUA. A pressa é sobretudo por causa do receio de que a sociedade desperte para sua soberania e descubra que está sendo saqueada.

Lúcio Flávio explica que para os militares a Amazônia possuía um valor simbólico fundamental. Enquanto ela fosse realmente brasileira os militares acreditavam que o Brasil valeira a pena. Os militares proibiam matérias jornalísticas sobre a Amazônia. Certa vez, uma repórter deixou uma pauta no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrário, o INCRA, que o enviou para o Conselho Nacional de Segurança Nacional (CSN).

Foi então Lúcio Flávio Pinto convocado para prestar esclarecimentos sobre a pauta ao CSN, em 1977. O santareno destaa que foi o primeiro a entrar no CSN por convite. Durante 3 horas houve um debate. Durante a reunião, de interrogado passou a ser consultor do conselho. A matéria foi então liberada e ganhou o prêmio Esso.

Hoje o jornalista santareno reclama da covardia dos jornalistas atuais Ele afirma que quando os veículos de comunicação passaram a exigir dos jornalistas o CNPJ. Assim os jornalistas passaram a raciocinar como empresários e o vínculo com o povo foi quebrado. Passaram a exibir informações relevantes apenas nos circuitos fechados.

Para Flávio isso foi um dos maiores golpes contra a Democracia. O jornalista precisa enfrentar o patrão, a censura e tudo que venha ser contra a verdade. A covardia dos jornalistas hoje é imperdoável. Exemplarmente, Lúcio Flavio Pinto teve a coragem de investigar e revelar todo o esquema do assassinato do ex-deputado Paulo Fonteles.

Ele não pôde publicar a matéria no Jornal O Liberal. Os dois acusados do assassinato eram os maiores anunciantes do Jornal Liberal. Para publicar a verdade sobre o assassinato, Lúcio Flávio Pinto fundou o Jornal Pessoal. A reportagem foi premiada e depois vieram outras matérias impublicáveis em jornais patrocinados. Assim o Jornal Pessoal precisou continuar vivo.

Viva também fica o exemplo de Lúcio Flavio Pinto em relação ao pensamento crítico. Pensamento crítico é uma avaliação voluntária diante de um fato, experiência ou conteúdo, que usa argumentos para determinar uma resposta diante do estímulo. O pensar crítico envolve uma observação e julgamento diante de um cenário ao qual se depara. É o fator predominante que faz com que líderes sigam adiante.

RG 15 / O Impacto

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