Familiares de vítimas do trânsito sangrento denunciam impunidade

Por Diene Moura

O trânsito caótico e sangrento possui vários fatores de risco que são responsáveis pelo número de vítimas fatais no município de Santarém. Ultrapassagem perigosa, imprudência e alcoolemia são uma das “armas”  utilizadas para ceifar vidas que deixam um “vazio” em mães que ficam sem filhos, mulheres que perdem os esposos, filhos que não podem mais ver os pais e tantos outros cenários de dor e luto que são agravados pela impunidade. Trabalhadores, estudantes, homens, mulheres, ricos ou pobres, não existem classe social ou faixa etária, todos os dias um mutilado, um paciente com fratura exposta ou até mesmo sem sinais vitais dão entrada nas unidades de saúde da cidade.

Só no final de semana de carnaval em Santarém, entre os dias 25 de fevereiro a  1 de março, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência  (Samu) foi solicitado para 38 ocorrências de acidentes de trânsito. Em cinco dias, os socorristas atenderam 40 (quarenta) vítimas e 1 (uma)  que não resistiu aos ferimentos e veio a óbito ainda no local. Embora tenha ocorrido a “Operação Carnaval 2022”, que reuniu diversos órgãos de segurança pública para  desenvolver medidas preventivas, educativas e de fiscalização para a garantia da defesa da vida, fluidez no trânsito e segurança viária da população neste período, as ações não inibiram a conduta negligente de muitos condutores.

No dia 25 de fevereiro dois acidentes com vítimas fatais foram registradas em menos de duas horas. O ciclista, identificado como Pedro Neves de Sousa, de aproximadamente  40 anos, morreu após ser atingido por um ônibus quando estava a caminho do trabalho. Segundo informações coletadas no local, o ciclista morava no perímetro onde ocorreu o acidente e havia adquirido um bolo minutos antes para comemorar seu aniversário juntamente com funcionários da escola onde trabalhava como vigilante. O motorista do ônibus alegou que não avistou o ciclista, apenas sentiu o “baque” na lateral do coletivo.

Outro acidente ocorrido na mesma noite tirou a vida da mulher de nome Ronere Silva Ebraim, morta ao ser atingida por uma motocicleta na Avenida Mendonça Furtando com 2 de Junho, no bairro de Fátima. Imagens de câmeras de segurança flagraram o momento em que a mulher se direciona para atravessar a rua com destino ao trabalho, e ao perceber o motociclista vindo em sua direção se apressa para ir para o outro lado da via, mas infelizmente acaba sendo atingida em cheio pelo motorista.  Ronere morreu na hora e o condutor da motocicleta foi encaminhado em estado grave para o Pronto Socorro Municipal (PSM).

Dentre esses casos mais recentes, existe o que causou mais indignação na população santarena. O acidente que tirou a vida do ciclista Juscelino Brito, ocorrido no dia 25 de janeiro na Avenida Borges Leal. Juscelino foi surpreendido por um motorista, que abriu a porta de um veículo que estava estacionado no momento que ele estava trafegando no perímetro a caminho do trabalho, e ao colidir foi arremessado para a via, onde um ônibus passou por cima da sua cabeça. O ciclista foi conduzido com vida, mas em estado grave à unidade de saúde, e não resistiu aos ferimentos e veio a óbito duas horas depois.

O motorista do carro inicialmente afirmou à imprensa que outro veículo havia atingido o ciclista. Mas o registro capturado por câmeras de segurança não deixaram margens para dúvidas. O vídeo mostrava exatamente, o momento que o condutor abre a porta sem a devida atenção, atitude esta que deixou consequências irreparáveis na família, que após mais de um mês cobra por Justiça. A viúva, Francicléia Bentes, em entrevista exclusiva para a TV Impacto quebrou o silêncio, denunciando a impunidade e contando como está a vida da sua família  após o trágico acidente.

Segundo a viúva já se passou um mês do ocorrido e até agora as autoridades competentes não tomaram nenhuma providência. “Quero externar minha indignação pelo fato que ainda não fomos chamados e não foi resolvido nada!  Acho muita demora devido ter acontecido isso, esse fato chocante, triste. A gente só não está vivendo em  uma situação precária hoje porque contamos com a ajuda de amigos e por esse motivo a gente não esta passando fome. Mas  eu queria fazer esse apelo ao poder público que possa rever essa situação, que Deus possa tocar no coração das autoridades, que  esse caso venha ser resolvido porque a gente precisa que seja feito Justiça, a gente precisa resolver essa situação”, salientou.

Francicléia Bentes reforçou seu apelo às autoridades para que o caso não seja mais um entre muitos e que o motorista seja responsabilizado conforme a lei prevê.  “Era um pai de família, um cara do bem, este é meu apelo, minha súplica, para que as autoridades  possam rever o caso do Juscelino e possam dar uma solução para esse problema. Eu decidi fazer esse vídeo por indignação de ver a violência no trânsito. O Juscelino fazia esse percurso há nove anos e relatava vários fatos de violência no trânsito. Todo dia ele falava: ‘amor, alguém me xingou’, ‘alguém mandou eu ir para a calçada’, ‘alguém buzinou em cima para assustar’. Enfim, isso não pode ficar assim, o ser humano tem que se preocupar mais com a vida do próximo, afinal de contas são pais de família, são avós,irmãos que acabam perdendo a vida nesse trânsito violento de Santarém”, finalizou.

RG 15 / O Impacto

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