Lembranças e nada mais…
Quem conhece apenas a Santarém de hoje, não faz a menor idéia da riqueza desta terra. Suas memórias, seus costumes, que, com o passar do tempo, foram plasmando a cidade que hoje se expressa orgulhosa vendo passar a procissão azul-morena do Tapajós e do Amazonas.
Wilson Fonseca, em seu Baú Mocorongo nos deixou para a posteridade a própria alma santarena. Mas eu quero lembrar, aqui, alguns fatos de minha infância na Terra Querida, que me marcaram muito e, com certeza, deixaram saudade na gente do “meu tempo”.
Por tradição de família gosto de música. Na década de cinqüenta o Colégio Santa Clara, sob a inspiração de Irmã Canísia, fazia, nos domingos à tarde, gostosos recitais de música e poesia, pequenas peças de teatro, onde se apresentavam as alunas talentosas e os artistas da cidade.
Nunca me saiu da memória aquela tarde em que a jovem Edith Bemerguy subiu ao palco, vestida de índio, e cantou divinamente bem o “Canto do Pajé”. Fiquei fascinado com aquela voz e com aquela melodia.
Mais tarde vim a saber que a música era de Villa Lobos, o grande compositor nacional. Essa foi a primeira página do livro do Villa que para mim foi aberta por aquela flor em botão da família Bemerguy.
Até hoje quando escuto essa música sou conduzido para aquele palco de domingo à tarde no colégio mais famoso da cidade.
Sem televisão, sem videogames, nossas diversões de menino eram fruto da criatividade. Quem não se lembra da brincadeira do “Camone”?
Nos filmes de cowboy que passavam no cine Olímpia, o bandido era abordado pelo mocinho com a expressão, em inglês: “Come on”, que nós traduzíamos à nossa maneira, correndo e se escondendo para ser flagrado pelo “adversário” que tirava do jogo o oponente com o seu “Camone!”.
A “arma” tanto poderia ser um revólver de brinquedo, como um pedaço de pau, mais ou menos do mesmo formato.O que contava era a fantasia.
Para não tomar muito espaço do jornal, depois conto mais.
Por: José Wilson