O que esperar da nova lista de Janot
A expectativa é de que os pedidos de inquéritos sejam enviados esta semana ao STF, implicando desde políticos da base e da oposição até ministros e ex-presidentes.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve enviar esta semana ao Supremo Tribunal Federal (STF) a segunda listagem de pedidos de abertura de inquérito contra suspeitos de envolvimento nos escândalos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato. Apelidado de “nova lista de Janot”, o rol de nomes foi construído a partir das delações, assinadas no fim do ano passado, de 78 ex-funcionários da Construtora Odebrecht.
A informação de portais de notícias nacionais é de que Janot, auxiliado por 16 procuradores, trabalha com cerca de 80 inquéritos, mas especulações elevam o número para mais de 200. A lista deve implicar políticos da base e da oposição, além de ministros atuais e anteriores e até ex-presidentes.
Devem ser implicados o senador Aécio Neves (PSDB-MG), os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral do Governo) e Eliseu Padilha (Casa Civil) e os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (ambos do PT). Os nomes só serão divulgados oficialmente, porém, após o relator da Lava Jato no Supremo, o ministro Edson Fachin, autorizar a abertura das investigações.
O doutor em direito constitucional da UnB, Paulo Blair, explica o procedimento. “O Fachin pode aceitar ou rejeitar a denúncia. Neste último caso, ele pode determinar novas investigações ou, se não achar indicativo, determinar o arquivamento”, afirma. Ele diz ainda que o colegiado de ministros pode entrar com recurso caso não concorde com o arquivamento de algum nome.
Expectativa
Essa fase de análise pode durar dias e, dependendo da quantidade de nomes, até mais de uma semana. Durante este tempo, os citados continuam em sigilo. A ansiedade dos Poderes para a divulgação da lista, porém, tem gerado expectativa e reações.
Em Brasília, o clima é tenso e a estratégia é tentar desviar a lista de Janot do foco nas atenções. Enquanto o Palácio do Planalto quer apressar discussão e votação de temas polêmicos, como a reforma da Previdência, para mostrar que não está paralisado, parlamentares voltam a articular anistia do caixa 2.
“O clima aqui é de ‘salve-se quem puder’”, resumiu um congressista que não quer ser identificado ao O POVO. Ele admite que conversas nos corredores trazem novamente à tona não só o perdão ao caixa 2, mas também a doações oficiais de fonte ilícita. Semana passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a afirmar que essa discussão deve ser feita de forma “transparente”.
Para a socióloga e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Dulce Pandolfi, o “estrago da lista de Janot” já começa durante a espera. “As delações viraram um espetáculo público. Essa forma de condução faz com que o senso comum acredite que todo político é ladrão, e isso não é positivo”, avalia.
Fonte: O Povo