Nato Aguiar: “Falta a prática da militância à população”
Coordenador do Curso de Música da UEPA fala sobre sua trajetória
Uma ‘fera’ nos palcos e um vitorioso na vida, assim podemos tentar definir em poucas palavras a vida de Raimundo Nonato Aguiar de Oliveira, ou simplesmente Nato Aguiar. Compositor, cantor e professor, dentre inúmeras outras atividades realizadas, em prol da cultura. Natural do estado do Piauí, foi no território amazônico que viu fortalecer a carreira de músico, paralelamente com outra paixão, o magistério.
Ao jornalista e apresentador da TV Impacto, Osvaldo de Andrade, Nato Aguiar falou um pouco sobre sua trajetória, ressaltando os trabalhos que conseguiu executar quando à frente da Secretaria Municipal de Cultura de Santarém, na gestão anterior.
“Do Piauí eu sai com 14 anos. Fui morar com alguns tios em Goiás, que hoje é Tocantins, na cidade de Augustinópolis. Fiquei lá até meus 18 anos. Naquela época fazia um ano que o Município tinha sido instituído, em 1983. Lá me dediquei de forma prática dentro da música. Antes fazia algumas composições e lá em Goiás comecei a tocar violão e ganhar em alguns festivais e shows de calouros. Quando menor de idade fui trabalhar como contrabaixista de uma banda que tocava em uma boate em Curionópolis, no antigo 30, que era onde os garimpeiros iam gastar o dinheiro deles. A metade da cidade era cidade, outra metade era só cabaré. O cachê era o dinheiro cruzeiro e era bem pago”, disse Nato.
Entre suas empreitadas, está a implementação de um jornal impresso, que acabou por não dá muito certo. Porém, entre idas e vindas, o músico acabou encontrando seu caminho, pela BR-230, Rodovia Transamazônica.
“Voltei novamente para Teresina, fui terminar meus estudos lá. Ensino médio e depois retornei a convite de um primo meu, para montarmos um jornal na Região do Bico do Papagaio que é a Região do final do Tocantins no limite com Maranhão e Pará, e lá fiquei trabalhando com o jornal que era a Folha do Interior, era um informativo quinzenal daquela Região, e começou a não dar certo e eu tinha paralisado minhas atividades musicais. Na época eu já fazia trabalhos de violão e voz, e resolvi acabar com a sociedade e colocar o pé na estrada. Cheguei em Imperatriz, e encontrei um ônibus que estava escrito: “Imperatriz e Itaituba”, olhei e disse eu vou nesse ônibus. Ouvi falar que em Itaituba naquela época corria muito dinheiro, então, eu resolvi ir para lá. Cheguei em Itaituba e uma semana depois arrumei um local para trabalhar, era uma churrascaria e com pouco tempo, fui convidado por um gaúcho que estava lá me assistindo, a tocar lá no Cripurizão. Lá ainda estava começando a se desenvolver. Nessa época só tínhamos uma rua que inclusive era a principal. Quem era desenvolvido nesse tempo era o Crepurizinho e esse rapaz, o Joia, hoje ele mora no Crepurizão, ele é empresário, a gente ficou amigo e depois de muito tempo nos reencontramos e estabelecemos uma amizade, “cabra” de primeira, fiquei por três meses por lá, depois retornei para Itaituba e fiquei cantando em uma banda de lá. Quando foi em dezembro de 1987, vim para Santarém porque a banda havia acabado e os músicos em sua maioria eram aqui de Santarém, e já falavam muito de Santarém, inclusive eu já sabia quem era o “Nem” desde esse tempo, que atualmente é meu sogro. Então, eu vim para Santarém, olhei a cidade e vi que Santarém tinha um movimento noturno muito interessante, e pensei: “Por que que eu não posso ficar aqui?”. Então, fiquei. Decidi minha vida lá na antiga Telepará. Logo falei para minha mãe: ‘Olha, não vou sair daqui enquanto não terminar meus estudos, vou fazer de novo o ensino médio, posteriormente curso superior’. A cidade naquele tempo já possuía uma estrutura interessante de se ficar, resolvi fazer outro ensino médio, pois eu havia feito contabilidade da época e aí fiz ensino médio dentro desse contexto do antigo científico. Depois fiz vestibular, passei para Letras, me formei, na época eu estudava no Cesan – Centro Educacional do nosso saudoso Nelson Machado, que hoje é o Onésima Pereira de Barros. Terminei meu terceiro ano no Álvaro Adolfo. Tive sorte porque o Álvaro Adolfo era uma escola muito forte naquele tempo, e saí preparado para fazer o vestibular, não passei na primeira tentativa porque eu dormi demais, pois era tempo de carnaval e eu tocava, mas no ano seguinte consegui passar e fui para UFPA, me formei em Letras, meu primeiro trabalho foi no Colégio Dom Amando, onde atuei por cinco anos como professor de Educação Artística e depois pedi demissão do Colégio Dom Amando, porque eu tinha conseguido um contrato no Sistema Modular de Ensino que é atual SOME pelo Estado e minha esposa tinha passado em um concurso para professora em Itaituba e eu estando no Modular, ficava mais fácil de eu fazer a mudança para lá. Fiquei no Polo de Itaituba e permaneci por nove anos por lá. Em 2010, já formado também em música pela UEPA, eu fiz o concurso para professor efetivo da UEPA, passei e hoje sou professor titular do Curso de Música da UEPA e atualmente coordenador desse curso”, expôs Aguiar.
À Osvaldo de Andrade, em entrevista que você pode acompanhar na TV Impacto, por meio do site www.oimpacto.com.br, Nato Aguiar fez uma avaliação sobre sua gestão à frente da cultura santarena.
“O maior orgulho que tenho, de ter estado na pasta da Secretaria foi de a gente ter iniciado a discussão para o que agora eles estão implantando, que é o Sistema Municipal de Cultura, que já empossaram o Conselho agora, é um trabalho muito lento, pois primeiramente precisávamos explicar e fazer as pessoas entenderem quais eram as vantagens do sistema e o que se agregava naquele contexto de fomento que pudesse fazer que o governo entendesse que aquilo era uma ótima estratégia de políticas culturais, junto aos próprios atores culturais do Município. Sabemos que o pessoal reclama muito, mas na hora de participar mesmo, existe uma situação muito distanciada deles; eles não têm a prática da militância, não só a questão da categoria artística, em todos esses setores a gente percebe que há uma carência muito forte da população em discutir o que eles querem. Eles gostam muito de cruzar os braços e esperar que os outros façam. Outro foi a recuperação total do Centro Cultural João Fona. Estava há muito tempo sem revitalização e o Prefeito foi muito solidário quando levei para ele a proposta de a gente fechar o Centro Cultural e fazer toda a revitalização com custos vindos da Prefeitura, já que não conseguimos com as várias emendas que tentamos fazer e não deu certo para custear com verbas federais e em outras instâncias, mas hoje o que temos de concreto é que ficou para cidade ele todo recuperado. Hoje é um cartão postal da cidade, inclusive a Casa de Cultura também estava toda deteriorada, e realizamos algumas medidas paliativas, já que a gente não pode mexer nela. Mas o nosso Prefeito era um ‘cara’ muito preocupado com esses equipamentos. Então, quando nós saímos, deixamos o recurso aprovado, que conseguimos através de uma emenda parlamentar, e agora só falta eles entregarem à população. Deixamos inclusive a primeira parcela já depositada em caixa que foi no final de 2016 da aquisição do som definitivo da Casa da Cultura e da iluminação definitiva, além disso, a troca das centrais de ar, ainda não foram instaladas todas, mas é uma situação que o atual governo está enfrentado, mas a gente está acompanhando esse processo. Tudo deve haver licitação, não se pode ter nada errado. Então, tem toda uma situação, mas ainda nesse ano eles pretendem entregar, que para população vai ser muito bom, e para o próprio governo, economizar nessa questão que era um gargalo, e a Casa da Cultura vai ter esse som definitivo e a iluminação cênica no palco, além das novas centrais. Claro, não vou dizer que essa situação que eu consegui, nada mais foi a nossa obrigação à frente da pasta, eu não acho interessante dizer ‘eu’, quem fez era o governo por que estava investido nesse compromisso com o povo. O grande resultado é a população que tem de estar satisfeita e prestigiada nesse contexto. Acredito que a gente acabou quebrando um paradigma de que poucos secretários ficavam quatro anos e a gente conseguiu ficar enfrentando uma série de dificuldades. Se a cultura é tratada de forma secundária lá na esfera federal, imagine no primo pobre do jogo que são as prefeituras. O próprio Estado se reclama, mas a gente fez e acho que hoje, ela está em boas mãos, o novo governo soube escolher bem a pessoa que está à frente, e trata-se de um grupo que manteve um pouco da nossa equipe por lá e que vem dando continuidade”, avaliou Nato Aguiar.
O CANTADOR DA AMAZÔNIA: Um artista ímpar, assim considerado por seus amigos e fãs. Tem trabalho reconhecido em toda região amazônica. No segundo semestre, deverá lançar um novo trabalho musical.
“Eu já trouxe uma gama de influências musicais na época em que cheguei aqui e que ao fazer esse diálogo com a Amazônia através de Santarém, só contribuiu para minha veia artística crescer mais ainda através das minhas composições e a gente tem um CD antológico que lançamos aqui que foi “Minha Tribo”. Eu tenho quatro CD’s lançados, mas “Minha Tribo” eu considero meu grande trabalho porque ele é o que eu mais copiei. Atualmente eu faço a venda dele, durante minhas apresentações, muita gente tem aqui, mas os turistas quando chegam e perguntam, os adquirem. É um CD que já tirei cerca de quatro mil cópias. Para entrarem em contato comigo para apresentações, você pode me contatar pelo e-mail: natoaguiar@yahoo.com.br e meu número para contato é o (93) 99113-3677, só não estou agora totalmente no mercado como antes, porque estou concluindo um mestrado em educação, cuja defesa é agora no final de agosto. Então, estou na fase de análise dos dados e executando a revisão final do texto. A partir de setembro, Nato Aguiar volta para as paradas com força total e com CD novo, tem muita coisa inédita que não pude mais mostrar por conta dessa ausência necessária”, finalizou.
Por Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto