Opinião | Isabelle Maciel* – A vulnerabilidade das mulheres e a violência doméstica no período de quarentena
Após a chegada do novo coronavírus no Brasil, a população tem mudado muitos de seus hábitos, principalmente relacionados a higiene corporal, tudo em prol da prevenção. Além da utilização do álcool em gel e de máscara, uma das várias medidas a serem tomadas é ficar em casa de quarentena, e muitas pessoas estão sendo liberadas dos seus serviços para cumprir esse período.
Sabendo da gravidade do estado atual em que o mundo se encontra, ficar em casa para se proteger é essencial, mas quero chamar atenção para um outro problema, sem tirar o foco dessa pandemia. Por isso decidi escrever sobre a vulnerabilidade de muitas mulheres nessa época, onde ficar em casa pode não significar estar completamente fora de riscos, pois como citei em meu primeiro texto para este site, o nosso país ocupa a quinta posição na lista mundial de violência contra a mulher. Precisamos debater ainda mais sobre violência doméstica.
Se você perguntar para pelo menos 10 mulheres que conhece, se alguma delas já sofreu ou sabe de algum caso próximo de violência doméstica, boa parte delas ou todas vão ter alguma história para te contar. Infelizmente essa é a nossa realidade, muitas de nós sofrem isso na pele ou presenciam suas mães, amigas ou conhecidas sofrerem, e na maioria das vezes sem poder ou conseguir fazer algo para dar um basta nisso. Agora imagine só, esse período em que a melhor recomendação é ficar em casa, e com isso muitas mulheres e seus companheiros estarão 24h juntos, alguns com a presença dos filhos ou parentes, e outros apenas o casal. Você não acha que há um grande risco de os casos de violência dentro do lar serem ainda maiores?
Caso você ainda tenha dúvida para chegar a sua resposta, listarei agora alguns dados para te ajudar a refletir sobre o assunto e sua gravidade. Segundo o Monitor da Violência, no ano de 2019, os feminicídios cresceram 7,3% em relação a 2018, foram 1.324 mulheres assassinadas por serem mulheres, uma a cada 7h. E a cada três delas, duas eram negras, e o dado que pode te fazer ajudar em sua resposta: a maioria delas foram mortas dentro de casa por seus companheiros. Se esses dados ainda não te causaram um alerta, ainda tenho mais para te mostrar, como os da pesquisa Datafolha feito de fevereiro de 2018 a fevereiro de 2019, encomendada pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) que avaliou o impacto da violência contra as mulheres no Brasil.
A pesquisa mostra que nesse período de 12 meses, 1,6 milhões de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. E dentro de casa, que é nossa discussão em questão, os dados apontam que 42% dos casos ocorreram no ambiente doméstico, e após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda. Definitivamente muitas de nós não podem encontrar em casa um refúgio para ficar em paz, e não vou utilizar esse espaço para também listar os motivos pelos quais os companheiros dessas mulheres praticaram esse crime, pois isso é algo que não tem justificativa, e sim combate.
Por isso é fundamental que além de estarmos atentas e atentos para prevenir a contaminação do coronavírus, precisamos nos atentar e combater a violência doméstica, pois esse período de quarentena pode ocasionar um aumento nos casos, e sendo sincera com você vou utilizar uma frase que li em um texto nas redes sociais: ficar confinada com o agressor pode custar a vida de uma mulher.
Mulheres, precisamos nos unir ainda mais nesse momento em que muitas estão correndo esse risco dentro de suas casas, não vamos replicar aquela frase de omissão que muitos utilizam, “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. Não vamos fechar nossos olhos e nem tapar nossos ouvidos, talvez você que esteja lendo esse texto seja uma vítima, portanto não se cale, procure ajuda, vamos combater e dar um basta nesses dados que só crescem.
Se você ouvir algum pedido de socorro ou presenciar alguma agressão, não pense duas vezes em chamar ajuda para evitar que isso continue. Ligue para o 180 (Central de Atendimento à Mulher) e faça a denúncia, e se for o caso de chamar os serviços de emergência para atendimento, ligue 190 (Polícia) e 192 (SAMU). Lembrando que se a Delegacia da Mulher não estiver funcionando 24 horas, o boletim de ocorrência pode ser feito em uma delegacia normal e depois transferido.
Para além dessas formas de combater, finalizo ressaltando a importância da sororidade entre eu e você mulher que está lendo. Sororidade é a união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, portanto vamos nos fazer presentes para ouvir e ajudar aquelas que passam por essa situação, precisamos nos manter ligadas umas as outras para ajudar a todas. Podemos contar com você nessa luta?
* Isabelle Maciel – Jornalista
RG 15 / O Impacto
Leia outros textos da autora
Realmente é um texto de suma importância para que nós tenhamos consciência de que nem todos estão protegidos e que nós temos a obrigação de ficar atento a nossa volta e denunciar, nessa pandemia precisamos nos unir da forma certa contra todos os males.
parabens , muito seu artigo. A Visão sobre a vulnerabilidade da mulher nesse periodo de quarentena. uma boa alerta para sociedade.
Texto lindo e impactante, parabéns!!!