Escândalos sexuais custam caro à Igreja Católica nos EUA
Epicentro dos escândalos sexuais envolvendo padres e diáconos na primeira década dos anos 2000, a Igreja Católica nos Estados Unidos superou o trauma, mas enfrenta o desafio de se manter relevante social e politicamente às vésperas do conclave. O maior rebanho religioso dos EUA – com 78,2 milhões de fiéis declarados – está se distanciando dos dogmas do catolicismo e clamando pela modernização da instituição em temas que vão da ordenação de mulheres ao casamento gay. Cada vez mais hispânica, a Igreja também lida com novas necessidades, como pressão por foco nos assuntos sociais, em detrimento da agenda ortodoxa de defesa do direito à vida, e expansão de atividades e serviços, para os quais faltam padres e recursos, após US$ 3 bilhões pagos em indenizações nos casos de pedofilia e abuso até 2012.
Os escândalos foram um baque em uma das mais poderosas comunidades católicas do mundo. Um estudo comissionado pela própria Igreja ao John Jay College of Criminal Justice apontou que 4.450 dos 110 mil padres que serviram nos EUA entre 1950 e 2002 foram acusados de abuso sexual, resultando, segundo a ONG BishopAccountability.org, em mais de 3 mil ações na Justiça. Nove bispos renunciaram desde 1990 – oito por escândalos sexuais, incluindo ícones como o primeiro negro e o primeiro hispânico a chegarem ao cargo – e o então mais poderoso cardeal americano, Bernard Law, pediu afastamento após a diocese de Boston ser o estopim das denúncias.
A avalanche de compensações financeiras às vítimas saqueou os cofres locais. Apenas a diocese de Los Angeles pagou mais de US$ 700 milhões a cerca de 550 vítimas violentadas, aparentemente, sob a vista grossa do cardeal Roger Mahony. Oito dioceses decretaram falência. Os fiéis exigiram (e continuam exigindo) maior controle e punição, e os episódios contribuíram para o crescente desapego dos americanos à fé. O catolicismo é a religião nos EUA que menos mantém na vida adulta fiéis criados sob sua doutrina, com perda de 10% do rebanho nesta transição, segundo pesquisa do Pew Forum on Religion and Public Life.
– Mesmo assim, a Igreja vem crescendo, os escândalos tiveram mais impacto de relações públicas do que de adesão. Deixaram a Igreja aqueles que já tinham relação frágil com o catolicismo, apontam nossas pesquisas. Em parte isso se deve ao fato de a instituição ser enraizada. Mas há também o peso dos latinos. A Igreja é, para o imigrante, uma das poucas coisas certas quando desembarcam nos EUA – diz Juhem Navarro-Rivera, do Public Religion Research Institute.
Os hispânicos garantem a expansão do rebanho católico, mas implicam em mudanças às quais a Igreja americana ainda tem que se adaptar. Os imigrantes estão espalhados nos EUA e nas cidades, ampliando o escopo de dioceses, demandando novos serviços paroquiais, educacionais e sociais e uma nova abordagem litúrgica, desde o uso do espanhol até missas não tradicionais.
O dinheiro já não é tão abundante numa Igreja que fez da riqueza sua principal arma política, garantindo 10,7% dos sacerdotes com direito a voto no Colégio dos Cardeais para 5,9% dos católicos do mundo. E os latinos representam um desafio em termos de doações, pois são menos abastados do que os tradicionais fiéis brancos.
A pesquisadora Mary Gautier, do Center for Applied Research in the Apostolate (Cara), da Universidade de Georgetown, acrescenta que 50% dos padres americanos têm mais de 60 anos, e a reposição dos que se aposentam ou morrem está muito aquém da formação de novos religiosos.
– Os hispânicos também formam uma comunidade mais jovem, mais aberta às mudanças culturais, mais desafiadora e menos disposta a obedecer cegamente. O impacto geracional já se percebe na aceitação, nesta base, do homossexualismo, do casamento gay e dos métodos contraceptivos. Mas a Igreja tem seus dogmas e não dá para antecipar como essa pressão será absorvida pelos líderes católicos – afirma Mary Gautier.
E a pressão para aliar tradição e nova realidade social é grande, para além dos latinos, em linha com a agenda progressista que ganha apoio crescente da sociedade. Na última sondagem do Public Religion Research Institute, 53% dos católicos afirmaram querer uma Igreja que se adapte aos novos tempos, incluindo novas práticas e crenças. Por exemplo, 54% se declararam favoráveis ao casamento gay – número que chega a 68% entre aqueles com 18 a 39 anos.
Na pesquisa conduzida pelo Pew Religion após a renúncia de Bento XVI, 46% afirmaram esperar do novo Papa uma nova direção para a Igreja, que traduziram como uma instituição mais moderna (19%), que seja rígida na prevenção e na punição de casos de abuso sexual (15%), permita o casamento de padres e seja mais aberta (14%), aceite a homossexualidade e a união gay e libere a ordenação de mulheres (9%). Apenas o aborto permanece como tabu, com só 1% dos fiéis defendendo flexibilização de posição.
No entanto, alerta Navarro-Rivera, os católicos americanos não querem uma Igreja que tenha como agenda prioritária a defesa do direito à vida. Com a ascensão da base latina e o empobrecimento após a Grande Recessão, a comunidade (60%) quer seus líderes espirituais engajados na defesa da justiça social e dos pobres, mesmo que isso sacrifique a batalha contra o aborto.
– A Igreja aborda esses temas (sociais), mas ganha mais publicidade quando fala de aborto. A preferência dos católicos e a opinião pública estão aí e é aí que querem sua Igreja. Mas a Igreja não é uma democracia – diz Navarro-Rivera.
Fonte: O Globo
Alguns membros tem falhas, nao a igreja. Agora acho interessante que so cobram liberdade ao aborto, homossexualismo e outras modernidades dentro da igreja catolica.Deveria entao se discutir e revindicar este tema dentro das outras organizações religiosas e evangelicas.
Acho que de fato quem nao quer ou nao pode ser padre deve sair e nao prejudicar uma instituição religiosa e seus fies, afinal o livre arbitrio existe e Deus assim permite.