Artigo – O testemunho da verdade nunca é perdoado

Por Oswaldo Bezerra

Nos anos 60 ainda existiam sombras humanas em degraus de escadas de granitos em Hiroshima. Eram sombras verdadeiras de pessoas que aguardavam a abertura do comércio. Às oito e quinze da manhã, de 6 de agosto de 1945, os donos das silhuetas foram queimados e desintegrados sobre o granito.

Sobreviventes ainda mantêm na memória o pesadelo da bomba nuclear. Eles descrevem o ocorrido como uma luz forte, como aquelas de curto-circuito. Logo após a luz azulada, um vento forte levou uma chuva negra. As plantas foram logo dizimadas.

A quietude tomou conta e nas ruas sobreviventes caminhavam desorientados, nus e calados em direção ao rio. Uma sede mortal os consumia. Muitas destas pessoas já não tinham pele nem cabelo. Poucos anos depois, a maioria destas mesmas pessoas também morreu vítimas de câncer.

O bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki foi um ato de assassinato em massa premeditado. Foi justificado por mentiras que formaram a base da propaganda de guerra dos Estados Unidos usada até hoje. Durante os 75 anos desde Hiroshima, a mentira mais duradoura é que a bomba atômica foi lançada para acabar com a guerra e salvar vidas.

Mesmo sem os ataques com bombas atômicas, a supremacia aérea sobre o Japão já exercia pressão suficiente para provocar a rendição incondicional, o que evitaria a necessidade de invasão. É o que o testemunho dos líderes japoneses demonstrou. O Japão se renderia mesmo sem as bombas atômicas e mesmo sem invasão.

Os Arquivos Nacionais de Washington contêm contados de solicitação de paz pelos japoneses desde 1943. Um telegrama enviado em 5 de maio de 1945 pelo embaixador alemão em Tóquio, e interceptado pelos EUA, deixou claro que os japoneses estavam desesperados por uma rendição incondicional. Nada foi feito pelos norte-americanos.

O secretário de Guerra dos EUA, Henry Stimson, comunicou ao presidente Truman seu receio de que os estragos do bombardeamento sistemático sobre o Japão provocasse uma rendição, impedindo que a “nova arma” fosse usada.

O uso da nova arma foi além. A política externa norte-americana planejou, já no pós-guerra, um bombardeio nuclear ostensivo sobre a Rússia. O general Leslie Groves, diretor do Projeto Manhattan que produziu a bomba atômica, testemunhou: “Nunca houve ilusão de minha parte de que a Rússia fosse nossa inimiga e que o projeto fosse conduzido com base nisso”.

No dia seguinte à destruição de Hiroshima, o Presidente Harry Truman manifestou sua satisfação pelo sucesso do “experimento”. O “experimento” continuou muito depois do fim da guerra. Entre 1946 e 1958, os Estados Unidos explodiram 67 bombas nucleares nas Ilhas Marshall no Pacífico, o equivalente a mais de uma Hiroshima por dia durante 12 anos.

As consequências humanas e ambientais foram catastróficas. No atol de Bikini os Estados Unidos explodiram a primeira bomba de hidrogênio. Até hoje a terra de lá permanece envenenada por radiação. Os pássaros sumiram. Uma ilha inteira foi vaporizada, deixando só um buraco negro.

A nuvem radioativa se espalhou rápida e “inesperadamente”. A história oficial diz que “o vento mudou de repente”. Foi uma das muitas mentiras, como revelam documentos desclassificados e testemunhos das vítimas.

Gene Curbow, meteorologista designado para monitorar o local do teste, disse: “Eles sabiam para onde iria à nuvem radioativa. Mesmo no dia do teste, eles ainda tinham a oportunidade de evacuar as pessoas, mas não fizeram. Os Estados Unidos precisavam de cobaias para estudar os efeitos da radiação”. Foi um experimento em seres humanos expostos à radiação de uma arma nuclear.

Os habitantes das ilhas Marshall e os sobreviventes de Hiroshima ainda hoje sofrem de uma variedade de cânceres, geralmente de tireóide. Abortos e natimortos foram comuns. Os bebês que sobreviveram eram, frequentemente, deformados.

O arquivo oficial dos EUA demoniza os moradores da ilha como “selvagens ameaçadores”. Após a explosão, um funcionário da Agência de Energia Atômica dos EUA vangloria-se de que Rongelap “é de longe o lugar mais contaminado do mundo”. Cientistas norte-americanos construíram carreiras diferenciadas estudando o efeito humano da radiação. É a imoralidade dos poderosos o verdadeiro inimigo da humanidade.

O plutônio bruto, que se espalha como pó de talco, nas áreas de testes, é tão perigoso para os seres humanos que apenas um terço de miligrama oferece 50% de chance de gerar câncer. Mesmo assim, os testes das bombas atômicas britânicas na Austrália não forneceram nenhum tipo de aviso de perigo de resíduo radioativo aos indígenas locais.

Nos avanços nucleares recentes, Obama aumentou os gastos com ogivas nucleares mais que qualquer presidente desde o final da Guerra Fria. Uma arma nuclear de pequeno porte foi criada para um uso mais calculado. Hoje, mais de 400 bases militares norte-americanas cercam a China com mísseis, bombardeiros, navios de guerra e armas nucleares. Formam o laço perfeito.

A China insiste em afirmar que não são inimigos de ninguém. Contudo, eles avisam que se as hostilidades continuem, eles irão se preparar e sem demora. O arsenal nuclear da China é pequeno comparado com o dos EUA e da Rússia, mas crescendo rapidamente, especialmente os mísseis marítimos projetados para destruir frotas navais. Pela primeira vez na história a China está discutindo colocar seus mísseis nucleares em alerta máximo, para serem lançados rapidamente. Isso é uma mudança significativa e muito perigosa para a humanidade. É o momento de repensarmos os perigos de uma super, e tão próxima, nova Hiroshima.

“Nenhuma radioatividade ficou nas ruínas de Hiroshima”. Foi a manchete do The New York Times, em 13 de setembro de 1945, foi um clássico da desinformação plantada. O jornalista William L. Lawrence negou, categoricamente, que a bomba atômica pudesse produzir uma radioatividade perigosa e persistente. Por causa disso, Lawrence recebeu o Prêmio Pulitzer, uma espécie de prêmio Nobel do jornalismo.

Apenas o repórter australiano, Wilfred Burchett, teve coragem de realizar a perigosa jornada para Hiroshima, logo após o bombardeio atômico. Desafiou as autoridades de ocupação dos Aliados, que controlavam um “grupo de imprensa”.

Ele relatou: “Escrevo isso como um aviso ao mundo”. Foi no London Daily Express, de 5 de setembro de 1945. Ele descreveu como as enfermarias hospitalares estavam lotadas de pessoas, sem ferimentos aparentes, mas que morriam de desnutrição, pelo qual definiu como “uma praga atômica”.

A radiação destrói os intestinos, e o alimento ingerido não pode ter seus nutrientes absorvidos. Por causa destes relatos, ele foi rotulado de “comunista”, e teve seu credenciamento de imprensa cassado. Seu testemunho da verdade nunca foi perdoado.

RG 15 / O Impacto

4 comentários em “Artigo – O testemunho da verdade nunca é perdoado

  • 6 de agosto de 2020 em 13:11
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    Chernobil não foi dentro da Rússia.

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    • 6 de agosto de 2020 em 14:16
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      Foi dentro da URSS, e aconteceu por imprudência e negligencia do governo comunista!!!!!

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      • 7 de agosto de 2020 em 11:24
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        O acidente no Three Mile Island não EUA deve ter sido culpa do governo comunista. O acidente de Goiânia, o pior do mundo, deve ter sido obra do governo militar comunista brasileiro.

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  • 6 de agosto de 2020 em 08:28
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    Quanto blá, blá, blá, para acusar somente os USA . “Esquece” que a ordem aos japoneses era não se renderem, ordem do imperador era pra ser cumprida, e cumpriam ! A retomada das ilhas ocupadas pelos soldados japoneses iria perdurar por anos e mais milhares de soldados americanos ainda iriam perecer. A verdade é que o governo japonês não acreditou na ameaça dos americanos, quando foram notificados da existência de uma bomba muito potente, que se rendessem ! O articulista também “esquece” de lembrar a tragédia de Chernobyl, dentro da Rússia , tragédia nuclear que os comunistas tentaram esconder do mundo, só descoberta com a chegada das nuvens radioativas na Europa. Menosprezaram as mortes, por queimaduras e irradiação nuclear, de seus patrícios, não eram inimigos de guerra !

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