FILA

Outro dia estacionei na Borges Leal com a Travessa Clementino de Assis e me surpreendi com o monte de pessoas aglomeradas na esquina. Perguntei para uma delas que estava próxima, de que se tratava? Era para comprar açaí, respondeu-me, ela.

Isso mesmo! Era para comprar o nosso gostoso, saboroso, energético e internacional açaí. Disse-lhe, então: gosto muito de açaí e tomo quase que, diariamente, com pouca adoçante e farinha tapioca. Lamentavelmente, mas quase me aproximando da “pior idade”, não me disponho entrar mais em fila, porque já entrei demais, desde o início dos meus primeiros passos. Como:

Primeiro, foi fila para encher água. Acordava-me, por volta das cinco da manhã, (naquela época super cedo) arrumava-se a lata nas torneiras públicas (na época havia), hoje deve ser o tal micro sistema.

Para não demorar na espera, tinha-se que furar a fila que era longa. Como? O jeito era arrumar uma briga, geralmente simulada, entre os que estavam aguardando a vez, para desarrumar as latas e depois do trabalho da “turma do deixa disso”, entrava-se com a nossa lata, na frente, das outras que estava na dianteira. Aí, ficava-se tranqüilo, até encher a lata antes dos demais.

Depois, participei da fila da carne no mercado velho, da hoje Lameira Bittencourt. Naquela época não havia carne selecionada, o peso era de acordo com a “cara do freguês”. Carne, osso, cabelouro (que se comia atrás da porta para ficar bonito, etc). Fila para comprar café, às vezes, na barraca da Santa, padroeira dos santarenos. Café em grão, ainda para ser torrado, em casa, e os moleques eram convocados para pilar o café e passar na peneira, depois tinha direito a uma prova do café “fresquinho e novinho”, às vezes torrado com erva doce e um pedaço de pão quentinho, ou beiju.

Fila para comprar o pão na Padaria Progresso. Esta, durante a falta do trigo, chegava a dobrar a Rui Barbosa, chegando até onde hoje é a agência do Banco Bradesco e Itaú. Eram dois pães para cada integrante da fila, ou representante de cada casa, ou família. Nós éramos seis a oito filhos (ainda faltaram os mais novos), mais os agregados. Então, íamos para a fila, entrava um e depois que se passavam seis a oito pessoas, entrava outro até todos estarem acomodados e assim conseguíamos pão a mais para a turma de detrás do Batista.

Fila para entrar na escola, na fila da merenda escolar, que era mingau feito com produtos da Aliança para o Progresso. Fila para pegar jornal e revistas para vender. Fila para trocar gibi, na frente do cinema Olímpia. Fila para “furar” no circo, no Cristo Rei ou no Elinaldo Barbosa. Fila para pular do bate estaca do trapiche, e mergulhar no Tapajós, no Castelo. Fila para pegar vaga no porto do saudoso Igarapé do Irurá, para a minha mãe lavar roupa.

 Fila para pegar rancho no quartel, pegar ônibus, pagar conta no caixa eletrônico e do supermercado. Fila para comprar peixe do defeso, na Semana Santa. Fila para a comunhão, fila para o dia de iluminação, no campo santo. (Esta aqui em Santarém é grave).

Fila para reclamar do alto valor do IPTU, deste ano. Fila para comprar o ingresso do show da banda predileta, do estádio de futebol (esta sempre desorganizada), fila para entrar na Casa da Cultura, quando há uma programação cultural, sempre atrasada. Fila do INSS, pronto socorro municipal. Fila para comprar uma latinha no carnaval de rua e no decaído baile de salão, fila para se entrar na outra fila.

Aqui na terra Tupaiu, temos mais umas novidades nas filas. Fila de carro para andar nas ruas de Santarém, por causa dos “buracos aqui, buracos lá e acolá”, senão desvia de um e cai em dois. Uma fila para comprar jornal aos domingos, pois vem poucos exemplares, isto quando vem. E aí, fila! A todas essas filas sempre encarei com alegria, disposição e muita descontração, às vezes, protesto. Mas ainda havia uma fila pior de todas. Eu era titular, como sempre, era a fila para “apanhar” no sábado da aleluia, por ter aprontado na Semana Santa. Veja só, hoje, é proibido. Eu nem morri, é claro!

 Então, voltemos para o caso da fila do açaí, nesta época da entre safra, de fortes chuvas, acima das tradicionais, comuns da região Amazônica, além da exportação acentuada. Já inventaram até o “barbeiro” entre os frutos, e sendo moídos junto com o suco da “juçara”. Prejudicando que se curta o sabor, no nosso caso, “sabor Tapajoara”.

Dele mesmo eu só recordo, com saudades é do pirão de açaí com peixe assado, como uma boa “ventrecha” de pirarucu, a beira do igarapé.

Mas, afinal, ainda teremos que passar por uma fila maior. A fila no céu, esperando a salvação.

ATENÇÃO ROMÂNTICOS! O FLUMINENSE REABRIRÁ SUA SEDE SOCIAL NO PRÓXIMO DIA 06/05/2011, NA PROMOÇÃO EM HOMENAGEM AO DIA DAS MÃES, “BAILE DA ROSA”, COM A PRESENÇA DE JOSÉ MARIA ALHO, BENÉ SIQUEIRA E SEUS CONVIDADOS. Não perca!

Por; Eduardo Fonseca

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